terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Qualquer medo

Tinha tamanho pavor à idéia da morte, que nem se deu conta do suspiro derradeiro. Permaneceu inteiro, ereto, caminhante, pagando religiosamente o IPTU. Entretanto, percebeu que se transformara em sombra, em coisa pálida, em pedaço do que um dia sonhara pra si. Não teve essa transmutação nenhum tipo de beleza, nem a da vertigem. Crisálida? O papo da larva asquerosa q subitamente transforma-se em formosa borboleta? Tsc,tsc,tsc. Depois de vinte e muitos anos tinha sido rebaixado à condição de rato. Não era mais um homem, era um RATO. Tudo lhe causava pavor. Coração na boca, cárie na artéria, não cabia mais em si. Milhões de palpitações, palpites de males incuráveis. No alto da colina, a mesma onde ele já vislumbrara a Bulgária, a Dinamarca e até o Japão, só via curvas sinuosas e fatais.

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