quinta-feira, 27 de março de 2008

A 'gangue' Sepultura e sua laranja mecânica

Brigas internas, pressões do estrelato, queda de popularidade e a saída de dois membros fundadores. Em 25 anos de carreira, o grupo Sepultura, instituição do thrash metal mundial, sobreviveu a tudo isso e demonstrou fôlego de sobra.
Quem for ao Sesc Santo André hoje 28, às 21h, poderá comprovar não somente o poder de fogo dos músicos, mas a persistência deles em não fixar os olhos no passado. Querem escrever os próximos capítulos de uma saga que começou em 1983, e incluiu passagens pelos mais respeitados palcos do mundo.
Além do repertório do CD Dante XXI, lançado em 2006, eles prometem mostrar uma composição ainda sem título, que deve ser inserida no próximo trabalho do Sepultura. Os fãs também devem esperar por canções emblemáticas da banda, entre elas Roots Bloody Roots e Territory.

LARANJA MECÂNICA
Assim como seu antecessor – inspirado no clássico A Divina Comédia, do escritor renascentista italiano Dante Alighieri –, o novo disco utiliza como referência uma obra literária consagrada: Laranja Mecânica, de Anthony Burgess.
O livro, que ganhou célebre versão cinematográfica de Stanley Kubrick, narra a história de Alex, um jovem perturbado que lidera uma gangue de delinqüentes. Preso, o rapaz é usado em um experimento que pretende frear seu impulsos destrutivos.“Desde moleques, lidamos com a violência e o filme provoca uma discussão muito pertinente de como a gente se coloca na sociedade. Estamos muito perto do caos total que o Burgess descreveu no livro, com muitas gangues e um governo que não manda nada”, explica o guitarrista Andreas Kisser.
Segundo ele, o álbum está em fase de pré-produção e o grupo já conta com cerca de 20 temas. Falta adaptar as letras às melodias do disco, que deve chegar ao mercado em outubro deste ano. Sobre a sonoridade das faixas, o guitarrista antecipou apenas que ela foi influenciada pela agressividade presente no conceito de Laranja Mecânica.

RELACIONAMENTO
O Sepultura não dá sinais de ter sentido o golpe de sua mais recente perda, o baterista Iggor Cavalera, que abdicou do posto em 2006. O lugar do instrumentista – que atualmente se dedica ao projeto Cavalera Conspiracy, ao lado do irmão e primeiro vocalista do Sepultura, Max – foi ocupado pelo virtuoso Jean Dolabella.
Sobram elogios para o mais novo integrante, que divide a responsabilidade pela ‘cozinha’ rítmica e melódica do grupo com o baixista Paulo Júnior. “É um dos melhores bateristas com quem já toquei na vida. Além de ter uma técnica apurada na bateria, toca vários instrumentos”, define Kisser.
Substituto de Max desde 1997, o simpático norte-americano Derrick Green ressalta as virtudes de Jean e a atual fase do Sepultura. “Estamos muito bem com o Jean. Depois de tantos shows, ficamos mais entrosados e escrevemos as músicas facilmente.”
O baterista não esconde a satisfação. “Sempre fui muito fã deles. Quando tinha uns 11, 12 anos, comprei o Beneath the Remains e ficava tirando as músicas no meu quarto. É muito bom tocar com eles, porque têm experiência.”

SEM RESSENTIMENTOS
Sobre o Cavalera Conspiracy, que lança mundialmente seu disco de estréia, Inflikted, no próximo dia 24, os membros do Sepultura falam de maneira franca e sem ressentimentos. “Eles (Max e Iggor) começaram tocando juntos e seria natural que um dia fizessem um projeto desse tipo”, comenta Green, em tom amistoso.
Kisser diz que não guarda mágoa, mas não gostou das composições dos antigos parceiros. “Escutei uma ou duas músicas e esperava um pouco mais. Parece uma coisa muito corrida, feita em cima da hora”, opina o guitarrista, que deve lançar disco solo em setembro. Ele também negocia com emissoras de TV para apresentar um programa sobre a história do rock.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Vivendo (e envelhecendo) na Cidade

Em setembro de 2007, tiroteios verbais, disputas na Justiça e acusações na imprensa marcaram o fim da banda Ira!, após 26 anos como uma das ‘instituições’ do rock brasileiro. De um lado, ficaram o guitarrista e compositor Edgard Scandurra, o baixista Gaspa e o baterista André Jung, que tentaram continuar com o já extinto Trio.
De outro, o vocalista Nasi Valadão, que rompeu relações com o irmão e empresário do grupo, Airton Valadão Rodolfo Junior. Depois de tanta confusão (ver box abaixo), amplamente noticiada pela imprensa, os músicos reiniciam suas carreiras e fazem projetos para o futuro.

Edgard Scandurra
Autor de clássicos do rock brasuca como Envelheço na Cidade, Núcleo Base e Dias de Luta, Scandurra prepara um disco solo e um show para o segundo semestre. “Estou em um momento de encontro das vertentes que pesquisei no rock e na música eletrônica”, define o instrumentista.
O músico também planeja um disco infantil, em parceria com o ex-titã Arnaldo Antunes e a cantora Tassiana Barros. O próximo CD de Arnaldo também deve contar com os riffs inspirados de Scandurra. “Estou com tempo disponível para cuidar da minha carreira solo, que sempre ficou prejudicada pela agenda do Ira!”, ressalta o guitarrista, que ainda encontra tempo para cuidar de seu restaurante em São Paulo, Le Petit Trou, especializado na gastronomia francesa.
Em abril, ele pretende promover no estabelecimento um show em homenagem ao cantor e compositor francês Serge Gainsbourg (1928-1991), que completaria 80 anos se estivesse vivo.
Sobre o fim das atividades do grupo que formou com Nasi em 1981, Scandurra prefere manter a discrição, mas não esconde o orgulho pela obra do Ira!. “Compus quase 200 músicas, boa parte delas são clássicos que marcaram a vida de muita gente. Sei que para os fãs saudosos deve ser difícil, mas foi uma página que se virou e ponto final. Agora, estou livre para fazer coisas que não poderia fazer em uma banda com 26 anos. Quero pensar nos meus próximos projetos.”

André Jung

O baterista André Jung lança seu primeiro CD com o projeto Urban Totem, que mistura referências da música eletrônica, ritmos brasileiros e world music. Homônimo ao grupo, o disco (Azul Music, R$ 24, em média) apresenta influência marcante da psicodelia.
Ao lado de Jung estão o tecladista e baixista Ricardo Prado, o rapper Lino Crizz, o percussionista Pedro Bandera, a baterista Michelle Abu e o violoncelista Jonas Moncaio.
Entre os destaques do álbum, gravado e produzido pelo baterista, estão as faixas Areias do Brasil, Life e Cristal. Quem espera por refrões fáceis e melodias assobiáveis pode se decepcionar. O repertório lembra os momentos mais experimentais do Ira!, como nas músicas Advogado do Diabo e Melissa.
“Meu objetivo foi fazer um disco bem-feito, homogêneo e acho que consegui êxito nisso”, afirma Jung, que criou o Urban Totem em 2005, quando ainda viajava com sua antiga banda na turnê do disco Acústico MTV. “Já tinha uma relação de convívio e trabalho intensa com esses músicos, que acompanhavam a gente na turnê. Comecei a enxergar uma outra possibilidade na qual eles não estivessem apenas como acompanhantes. Tenho uma admiração imensa pelo Lino Crizz. Ele tem alma de soulman”, destaca o baterista. Atualmente, ele ensaia o show do Urban Totem, ainda sem previsão de estréia.

Nasi e Gaspa

O cantor Nasi volta aos holofotes no próximo sábado (dia 15), às 22h, na casa de shows Clash Club (Rua Barra Funda, 969. Tel.: 3661-1500), em São Paulo. No palco, ele terá a companhia de um ex-colega do Ira!: o baixista Gaspa. Completam a formação do grupo de apoio o baterista Júnior Moreno, o guitarrista Nivaldo Campopiano e o tecladista André Youssef. Os ingressos custam R$ 25.
Entre as músicas do set list estão sucessos do Ira!, como Tarde Vazia, canções dos discos-solo do intérprete e estandartes do rock, como I Wanna Be Your Dog, do lendário grupo norte-americano Stooges.
Apesar de Gaspa ter integrado o Trio, Nasi sempre poupou o baixista de sua língua afiada. “Dentro do Ira!, ele sempre concordou comigo em que a nossa pausa era necessária. Quem conhecia a banda sabia que há dez anos a coisa não estava legal. Como eu posso tocar com o Edgard e o André, que fizeram parte do processo de interdição judicial contra mim, ainda mais sabendo que eu estou ‘limpo’?”, desabafa o vocalista.
Ainda segundo o cantor, que garantiu não ser mais usuário de drogas, o Trio acabou de maneira precoce porque não teve a aceitação do público. ”Nos dois últimos shows que eles fizeram, jogaram moedas no palco”, comenta. Antes do show no Clash Club, às 19h30, haverá um coquetel para convidados e a exibição de trechos do longa Sem Fio, do diretor Tianaju Arnovich, em que Nasi interpreta o personagem Castro, um homem arredio e viciado em cocaína.Entenda o casoSetembro de 2007


CRONOLOGIA DA CONFUSÃO
Dia 5 – A revista Flash publica a saída de Nasi do Ira!. No mesmo dia da publicação da reportagem, o cantor diz ao Diário que apenas pretendia tirar férias de um ano, a partir de dezembro de 2008, depois de cumprir a agenda de compromissos do grupo
Dia 11 – Depois de negar sua saída da banda, Nasi informou seu rompimento definitivo com o Ira!. Ele teria deixado a banda após uma suposta agressão que teria sofrido de seu irmão, o empresário do grupo, Airton Valadão Rodolfo Junior. De acordo com Nasi, o empresário teria avançado sobre ele com uma faca, após uma discussão acerca dos negócios do grupo. Por sua vez, Junior negou a versão e disse que recebeu ameaças do irmão.
Dia 14 – Os músicos Edgard Scandurra, André Jung e Ricardo Gaspa formalizam ação contra Nasi na 1ª Vara Cível do Fórum de Pinheiros, em São Paulo. Segundo a advogada dos artistas, eles pretendiam dissolver a sociedade com o cantor. Outubro
Dia 26 – O pai de Nasi, Airton Valadão Rodolfo, pediu a interdição judicial do cantor (quando há comprovação clínica de que o indivíduo não tem condições de responder por seus atos, o que o impede de assumir qualquer compromisso legal). O processo tramita na 2ª Vara de Família do Fórum Regional de Pinheiros, em São Paulo. Novembro
Dia 12 – Em um comunicado no Orkut, Scandurra anuncia o fim do grupo. Entretanto, o guitarrista garantiu que continuaria se apresentando com Jung e Gaspa, com o nome de Trio. Fevereiro de 2008 Dia 13 – Jung informou no Orkut que o projeto Trio havia chegado ao fim. Na ocasião, o músico também anunciou que estava envolvido com os trabalhos de seu novo grupo: Urban Totem.

Tempo, tempo mano velho

Sobra vontade e falta tempo para atualizar o blog, o que chega a ser curioso, já que boa parte do meu trabalho se resume a coletar impressões e transformá-las em textos. De volta a rotina do jornal, assisti ao show do Dylan com um misto de deslumbramento e enfado. A matéria abaixo, publicada no último dia 7, explica melhor.

DOJIVAL FILHO
O primeiro show de Bob Dylan nesta passagem pelo Brasil, realizado anteontem no Via Funchal, em São Paulo, comprovou a tese de que, no universo pop, o carisma e a relevância histórica podem compensar limitações técnicas.
Não foi um evento marcado pela comunicação do artista com o público, efeitos cênicos e, tampouco, performances aeróbicas no palco. Aliás, quem tem intimidade com a obra do músico sabe que não poderia esperar por isso. As cerca de 3.000 pessoas que desembolsaram entre R$ 250 e R$ 900 para assistirem sentadas à apresentação se comportaram de maneira reverente diante do ídolo.
Um dos maiores compositores norte-americanos, Dylan nunca teve uma bela voz. Aos 66 anos, seu timbre vocal está ainda mais rascante que na juventude.
Mas isso pouco importou para a platéia submissa, que o saudou desde os primeiros acordes de Leopard-Skin Pill-Box Hat, do fundamental disco Blonde on Blonde, que iniciou o ‘culto’, por volta das 22h.
O primeiro ponto alto foi a balada Masters of War, hino do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos gravado em 1963. Nesse momento, Dylan desvencilhou-se da guitarra e passou para o piano, seu instrumento principal durante todo o espetáculo.
Apesar de nenhum instrumentista ter se sobressaído, a banda de apoio mostrou competência na interpretação dos arranjos que, de tão diferentes das gravações originais, tornaram quase irreconhecíveis músicas como It Ain’t me, Babe.

REPERTÓRIO
O ‘bardo roufenho de Minnesota’ dedicou boa parte do repertório às canções de seu mais recente trabalho, o CD Modern Times, entre elas The Levee’s Gonna Break, Nettie Moore e Thunder on the Montain. Também não faltaram estandartes como o rock turbinado Highway 61 Revisited, que fez os fãs levantarem das cadeiras.
Infelizmente, ficou de fora do set list a esperada Blowin’ in the Wind, uma das prediletas do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que estava na platéia. O parlamentar não obteve sucesso em seu pedido ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para que fosse realizado um show gratuito do astro na cidade.
Após cerca de duas horas, Dylan encerrou o show com o clássico Like a Rolling Stone, cantado em uníssono pelo público. Voltou pouco depois para o bis com Thunder on the Mountain e All Along the Watchtower.

FAMOSOS
Outros nomes conhecidos pelo grande público – entre eles a atriz Deborah Falabella, o cantor Belchior e os integrantes do grupo Cachorro Grande – circularam pelo Via Funchal, que deveria receber outro show do cantor na noite de ontem. “Foi maravilhoso. O Dylan tem mesmo essa coisa de mudar os arranjos. Nenhum show é igual ao outro”, comentou o baixista do Cachorro Grande, Rodolfo Krieger.