quinta-feira, 13 de março de 2008

Tempo, tempo mano velho

Sobra vontade e falta tempo para atualizar o blog, o que chega a ser curioso, já que boa parte do meu trabalho se resume a coletar impressões e transformá-las em textos. De volta a rotina do jornal, assisti ao show do Dylan com um misto de deslumbramento e enfado. A matéria abaixo, publicada no último dia 7, explica melhor.

DOJIVAL FILHO
O primeiro show de Bob Dylan nesta passagem pelo Brasil, realizado anteontem no Via Funchal, em São Paulo, comprovou a tese de que, no universo pop, o carisma e a relevância histórica podem compensar limitações técnicas.
Não foi um evento marcado pela comunicação do artista com o público, efeitos cênicos e, tampouco, performances aeróbicas no palco. Aliás, quem tem intimidade com a obra do músico sabe que não poderia esperar por isso. As cerca de 3.000 pessoas que desembolsaram entre R$ 250 e R$ 900 para assistirem sentadas à apresentação se comportaram de maneira reverente diante do ídolo.
Um dos maiores compositores norte-americanos, Dylan nunca teve uma bela voz. Aos 66 anos, seu timbre vocal está ainda mais rascante que na juventude.
Mas isso pouco importou para a platéia submissa, que o saudou desde os primeiros acordes de Leopard-Skin Pill-Box Hat, do fundamental disco Blonde on Blonde, que iniciou o ‘culto’, por volta das 22h.
O primeiro ponto alto foi a balada Masters of War, hino do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos gravado em 1963. Nesse momento, Dylan desvencilhou-se da guitarra e passou para o piano, seu instrumento principal durante todo o espetáculo.
Apesar de nenhum instrumentista ter se sobressaído, a banda de apoio mostrou competência na interpretação dos arranjos que, de tão diferentes das gravações originais, tornaram quase irreconhecíveis músicas como It Ain’t me, Babe.

REPERTÓRIO
O ‘bardo roufenho de Minnesota’ dedicou boa parte do repertório às canções de seu mais recente trabalho, o CD Modern Times, entre elas The Levee’s Gonna Break, Nettie Moore e Thunder on the Montain. Também não faltaram estandartes como o rock turbinado Highway 61 Revisited, que fez os fãs levantarem das cadeiras.
Infelizmente, ficou de fora do set list a esperada Blowin’ in the Wind, uma das prediletas do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que estava na platéia. O parlamentar não obteve sucesso em seu pedido ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para que fosse realizado um show gratuito do astro na cidade.
Após cerca de duas horas, Dylan encerrou o show com o clássico Like a Rolling Stone, cantado em uníssono pelo público. Voltou pouco depois para o bis com Thunder on the Mountain e All Along the Watchtower.

FAMOSOS
Outros nomes conhecidos pelo grande público – entre eles a atriz Deborah Falabella, o cantor Belchior e os integrantes do grupo Cachorro Grande – circularam pelo Via Funchal, que deveria receber outro show do cantor na noite de ontem. “Foi maravilhoso. O Dylan tem mesmo essa coisa de mudar os arranjos. Nenhum show é igual ao outro”, comentou o baixista do Cachorro Grande, Rodolfo Krieger.

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