terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Divina Comédia dos Mutantes (ou coisas q fazem essa vidinha besta valer a pena)

Entrevista publicada em janeiro de 2007

Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
Após quase três décadas inativos, os Mutantes promovem quinta-feira, no Parque da Independência, em São Paulo, um retorno triunfal aos palcos brasileiros, como atração principal das comemorações do 453º aniversário da cidade. O Diário visitou a casa do guitarrista Sérgio Dias na semana passada. É o quartel-general onde o grupo acerta os detalhes para o concerto.
Na sala de estar da confortável casa, situada em um condomínio de luxo, na Granja Viana, em São Paulo, Sérgio, a cantora Zélia Duncan, Arnaldo Baptista e o baterista Dinho Leme receberam a reportagem para um descontraído bate-papo retratado pelo ilustrador Seri.

DIÁRIO: Quais surpresas vocês preparam para o show?
ARNALDO BAPTISTA: Trouxe o contrabaixo e talvez eu toque uma música com ele. Ainda nem sei qual. Na minha carreira solo, eu toco baixo em todos os discos, mas, nos Mutantes, toco teclado.
DINHO LEME: Antigamente, ele gravava os baixos.
SÉRGIO DIAS: A Zélia vai tocar bateria, o Dinho vai tocar guitarra e eu vou ser roadie (risos).

DIÁRIO: Pode ocorrer uma jam session com o Tom Zé?
SÉRGIO: Eu espero que sim.
ZÉLIA DUNCAN: Agora, queremos curtir um pouco o lançamento, mostrar o show que nós não mostramos.
SÉRGIO: Não dá para a gente fazer um show por mês. A gente trabalhou muito para fazê-lo. ZÉLIA: A surpresa é todo mundo ver a gente tocando (risos).

DIÁRIO: Vocês já trabalharam em alguma composição nova?
SÉRGIO: Tudo preguiçoso (aponta sorrindo para os demais).
ZÉLIA: Esse ano a gente tem que curtir esse disco. Tem uma agenda bacana sendo apresentada, com vários shows: Brasília, Goiânia, Curitiba, Rio, Salvador, Porto Alegre, e, depois, Canadá e Suíça.
SÉRGIO: Vamos tocar no Glastonbury (renomado festival inglês) e três dias na Irlanda.
ZÉLIA: Foi um enorme trabalho. Agora que as coisas se encaixaram, a gente quer curtir o palco. Não temos que ficar desesperados com as músicas inéditas. É uma coisa normal, vai rolar. ARNALDO: Estou compondo uma letra que se chama Os Campos Energéticos.

DIÁRIO: Sobre o que trataria um disco dos Mutantes hoje?
SÉRGIO: A gente ainda não sabe.
ARNALDO: Vou tentar levar para um lado científico.
SÉRGIO: Eu também (risos).ZÉLIA: Já eu não. Está bom, né? (risos).

DIÁRIO: O fato de ter substituído a Rita Lee e ter sido alvo de comparações ainda é algo que pesa para você?
ZÉLIA: Isso já está resolvido na cabeça de todo mundo. Quem não está resolvido é porque não vai resolver nunca e também não interessa pra gente.
SÉRGIO: Não vamos querer dar pano para manga nessa história, porque isso já é passado. O que tinha que acontecer, já aconteceu.

DIÁRIO: Rita Lee tem um timbre mais agudo que o da Zélia. Vocês tiveram que fazer alguma adaptação nos arranjos?
ZÉLIA: Na verdade, quem dá a palavra final sobre os tons sou eu (risos).
SÉRGIO: Quem manda na banda é a Zélia (risos). Eu sabia que era possível, não ia jogar a Zélia numa fogueira.

DIÁRIO: Zélia, como está sua carreira solo? ZÉLIA:
Vai muito bem, obrigada. Estou em turnê, trabalhando muito, acabei de chegar de Salvador, gravei um DVD da turnê do Pré-Pós Tudo Bossa Band, que vai ser lançado depois do Carnaval. Minha prioridade são os Mutantes, mas minha carreira está aí.
SÉRGIO: A gente tem um médico que fica atrás dela para saber se está tudo direitinho. Essa mulher é uma loucura.

DIÁRIO: Sérgio, como está sua relação com o Arnaldo hoje?
SÉRGIO: Hoje em dia, posso admirar e contemplar o que ele fez em mim. Isso é genial. Lembro de uma vez, ainda moleque, e, como todo moleque, vagabundo, só queria saber de guitarra. Tinha que carregar a Kombi depois de um show. E eu tava lá me arrastando, fingindo que estava carregando uma caixa Leslie. O Arnaldo chegou e disse: ‘É assim, ó!’ (faz o movimento de alguém empurrando uma caixa com força). Outra vez, falou: ‘Você tem que aprender a ser mais humilde’.
ARNALDO: Eu não lembrava disso.
ZÉLIA: Tem coisas que são só para quem ouviu lembrar. Quem falou esquece (risos).
SÉRGIO: O Arnaldo é um furacão.
ARNALDO: Furacão é injeção de veterinário (risos). Está sendo maravilhoso. Antigamente, eu tinha muitas idéias, e, agora, parece que tudo entrou num foco, numa grande angular.

DIÁRIO: Como a gente pode explicar para um leigo a importância da sua famosa guitarra Régulus? Há uma réplica dela?
SÉRGIO: Tem essa aqui que nunca foi terminada (aponta para uma guitarra pendurada na parede). O timbre dela é tão característico, a inclinação de cordas dela é altíssima e o tamanho da escala é todo diferente. Ela tem um som que é só dela.

DIÁRIO: Sérgio, mesmo antes de o grupo voltar, você sempre falou em entrevistas sobre a banda como algo muito presente. Em algum momento se sentiu chateado com informações equivocadas que foram publicadas na imprensa?
SÉRGIO: Sim, muitas vezes. Vi declarações de pessoas que eu revidei. Mutantes é motivo de orgulho para mim e sempre foi. É a substância da qual eu sou feito.

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